Não acredito que uma criança não goste de ler. Se alguma delas ainda fala isso, é porque não foi estimulada. Ninguém ama aquilo que não conhece e nem dá o que não tem. Quando ela ainda está desenvolvendo sua capacidade de abstração, está se alfabetizando e incorporando modelos que lhe servirão para a vida toda. Por isso, a família deve ler para ela. Assim ela segue o exemplo. Já na escola, cabe ao professor/mediador promover a sua entrada no universo da leitura. A imaginação dela é seu passaporte para um mundo de fantasias.
Há mais de 20 anos desenvolvo atividades com leitura. Certa vez, uma professora me falou que um aluno seu não gostava de ler e que jamais havia se interessado por livros. Num destes momentos de leitura, resolvi ler uma história para o grupo. Enquanto outros ouviam, ele apenas ficava apático, isolado. Observei que ele desviava o olhar do livro que estava em minhas mãos. Eu gesticulava, ria e ele não se manifestava. De repente, ao mostrar uma das ilustrações, percebi que ele voltou seus olhos para o livro e continuou assim até o final da história. Perguntei aos alunos se queriam falar algo sobre o que ouviram. Muitos participaram. Então esperei para ver se mais alguém se manifestava. Para nossa surpresa, ele levantou a mão e disse: “Prô, volta naquela página.” Então perguntei o que tinha chamado a sua atenção. Ele me disse: “Aquela figura da lua...”
Este é o prazer da descoberta. Saber esperar o tempo certo de cada leitor principiante. Se ele fosse forçado a ler, a prestar atenção, e principalmente a responder perguntas com frases feitas, garanto que ele não teria coragem de se manifestar.
Nos contatos com professores, cuido para não apresentar a leitura como uma obrigação, mas como uma descoberta. É preciso paciência e respeito pelo tempo de cada um. Não basta criar o hábito da leitura, o empenho deve ser diário, criando o desejo da leitura por prazer, ampliando a concepção de mundo e desenvolvendo o senso crítico. A escola pode e deve ser um espaço de leitura, mas depende da forma como ela é oferecida à clientela.
MARIA DE FÁTIMA BAUMGÄRTNER|Professora

02/07/2010 N° 11981 - ARTIGO - Publicado: Jornal de Santa Catarina